As cores da Natureza: a nomenclatura das cores de Werner


Nova coleção Poética do Habitar tem inspiração em um dos primeiros dicionários cromáticos a Nomenclatura das cores de Werner e o compilado do artista Patrick Syme.


Amostras de cores parecem uma invenção moderna. A Pantone, por exemplo, está ligada à emergente economia pós-Segunda Guerra Mundial, quando a necessidade de padronizar cores em produtos na mídia impressa se tornou essencial.

No entanto, há pouco mais de um século, a padronização das cores em linguagem já existia ‒ a  Nomenclatura de Cores de Werner, publicação do mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner em 1774. O mineralogista foi um dos pioneiros ao apresentar um método para descrição de espécies minerais. Reuniu uma coleção de amostras, e publicou um belíssimo dicionário cromático, em que apresenta uma nomenclatura de 54 cores encontradas na natureza.




Werner acreditava que, para classificar um mineral, a primeira observação deveria ser a sua cor, visível aos olhos. Na sequência, os outros sentidos como o tato, o olfato, a audição e até mesmo o paladar, deveriam auxiliar essa observação, sendo indispensáveis para a sua classificação de rochas e minerais.

Portanto, a importância e contribuição histórica de Werner, com sua nomenclatura de cores e estudos da mineralogia é inegável e demonstra a estreita e profunda relação ‒ quase romântica ‒ do mineralogista com a natureza, uma ideia avançada para sua época quando, na produção científica, a mineralogia ainda nem era considerada exatamente uma ciência. 

 

Descrições Cromáticas:

 

Em 1814, o pintor escocês Patrick Syme usou o trabalho de Werner como inspiração para produzir seu próprio livro, Werner's Nomenclature of Colours.

Syme adaptou as ideias de Werner e as expandiu ‒ o livro agora incluía mais de cem amostras de cores acompanhadas por elegantes descrições manuscritas e exemplos dos locais onde cada uma dessas cores poderia ser observada, fosse no reino animal, vegetal ou mineral.

É possível ler cada uma das descrições de cor como se fosse poesia: “Pintassilgo Verde,” ou nº 61:  “é verde esmeralda misturado com muito amarelo limão e um pouco de branco amarelado.” Esse tom pode ser encontrado na “Pera Colmar Madura ou na Maçã Irlandesa”. “Castanho Amarelado,” ou nº 104, é “composto por marrom castanho, misturado com uma porção considerável de amarelo limão”,  podendo ser encontrado nas manchas marrom-claras dos porquinhos da índia ou ainda no peito de uma poupa.








Charles Darwin, por sua vez, levou consigo uma cópia do livro de Patrick Syme, Nomenclatura de Cores de Werner, em sua viagem a bordo de seu HMS Beagle, em 1831, e o utilizou para fazer observações de história natural.  Em seu livro  Viagem de um naturalista ao redor do mundo , onde escreve “ter se emocionado com a beleza do mar quando visto através das frestas do seu chapéu de palha”, talvez ele tenha visto os amarelos-azuis-acinzentados ou o 'Índigo com um pouco de azul-celeste' [e] o céu na época era 'Berlim [azul]' com um pouco de Ultramarino” da nomenclatura de Werner... quem saberá ao certo?

Contudo, Werner não era infalível, com nenhum ser humano é. As amostras no livro, como vocês podem imaginar, estavam destinadas a desbotar, e cabia ao usuário combiná-las, e reconhecê-las.

A maneira como falamos sobre cores, hoje, geralmente identificada como uma sequência de números, estaríamos mais seguros sobre estarmos falando  “mesma” cor.... Mas onde foi parar a poesia das cores? Onde se nota, hoje,  a falta de objetividade científica de Werner, reconhece-se, ao mesmo tempo, a bela linguagem com a qual esse mineralogista alemão conseguiu catalogar as cores e seus tons ao longo do dia, das estações do ano, das cenas cotidianas da natureza  – como  a descrição do brilho abstrato de um peixe dourado, ou os olhos da maior mosca da carne.

Werner, considerado o “pai da mineralogia moderna”, organizou os minerais em grupos, classificando-os por características como cor, forma e dureza. Ele não apenas ampliou o conhecimento científico sobre os minerais, mas também teve um impacto significativo na educação mineralógica do observador, ajudando a formar uma base sólida para estudos posteriores, influenciando gerações e gerações de mineralogistas.

A Nomenclatura de Cores de Werner ganha nova vida com o lançamento dos sets de solo e com as novas suítes cromáticas de tinta aquarela dos Embaixadores da marca Poética do Habitar, inspirados pelo trabalho de Werner e Syme. A Poética do Habitar selecionou cuidadosamente 12 cores e, nos próximos meses, outras serão lançadas, mantendo, assim sua tradição: ser essa marca que produz cores aliadas à história dos pigmentos, à literatura e à poesia.


Comentários

  1. Quanta beleza neste vídeo!
    Parabéns por esta pesquisa incrível Poética do Habitar, e por tantas cores maravilhosas que nos presenteia em forma de aquarelas! Tenho muita alegria em ser embaixadora desta marca!

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